Assisti ao filme “Ficção Suburbana”, de Rossandra Leone, na Mostra Universitária-Conexões Gramado Film Market, no 52o Festival de Cinema de Gramado. A sala do Museu do Palácio dos Festivais estava lotada. Uma plateia jovem na maioria e não negra recebeu calorosamente o filme.
O curta-metragem apresenta de forma leve o relacionamento entre Camila e Marcela, contrariando o imaginário cristalizado, onde o desencontro, o desengano e a impossibilidade costumam ser a tônica aceitável.
Em “Ficção Suburbana” o amor, as demonstrações de afeto, as cumplicidades, as amizades fazem parte do cotidiano das personagens. As protagonistas têm pai, mãe, avós amorosas e cuidadosas. As famílias de ambas aceitam e respeitam as escolhas das filhas. Ao exercerem a amorosidade, fortalecem os laços familiares.
As relações de amizades entre os jovens são alegres, mesmo quando lembram dos perrengues. As vizinhas mais velhas são as tias, que zelam pelo bem-estar das sobrinhas. Lindo ver as múltiplas possibilidades de mostrar o universo de famílias negras. Nesta ficção, apenas vivendo, amando, trabalhando, produzindo, sorrindo, recebendo e transmitindo afetos. Me deixei afetar.
Um Salve! a essa gente que acredita na multiplicidade de olhares que podemos ter sobre a
vida negra da população negra – com toda a redundância – utilizando as ferramentas que o audiovisual possibilita.
Somos diversos. Temos muitas histórias para contar. Temos público para assistir. Bem-vindas às conexões suburbanas, urbanas, rurais, reais ou ficcionais. Clarososamente, aplaudimos.
*Vera Lopes – Atriz