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A Um Gole da Eternidade (2024)

            Ser selecionado para participar, concorrendo em um dos principais, e o segundo mais longevo – 52 anos – festival de cinema do Brasil, já se configura como um prêmio. O filme de curta-metragem “A Um Gole da Eternidade” teve a sua estreia na Mostra de Curtas Gaúchos – Prêmio Assembleia Legislativa, no 52º Festival de Cinema de Gramado.

 

            No entanto, nem o Júri Oficial, nem o Júri da Crítica consideraram “A Um Gole da Eternidade” para receber premiação ou mesmo Menção Honrosa. Por esses julgadores, o filme passou “batido”. Porém, uma parcela significativa da comunidade negra gaúcha, mesmo sem ainda o ter assistido, premiou o curta dirigido por Paulo Ricardo de Moraes e sua filha, Camila de Moraes. Paulo Ricardo também assina o roteiro, o qual vinha maturando há mais de trinta anos.

 

            O prêmio concedido foi uma expressiva presença negra para assistir à exibição do curta dos Moraes. Duas vans e seis carros particulares subiram a Serra gaúcha naquele sábado gelado de três graus Celsius, com sensação térmica de zero grau, exclusivamente para acompanhar a estreia de “A Um Gole da Eternidade” na competitiva gaúcha.

 

           Tal fato decididamente não é pouco. É demonstração de confiança, é incentivo, é comprometimento, é resposta ao chamado da Camila, que se desdobra em múltiplas funções para produzir e dar visibilidade à obra fílmica, com as nossas e os nossos ocupando espaços, atrás e na frente das câmeras.

 

             Camila de Moraes é diretora, distribuidora, roteirista, aglutinadora. Chama gente. Com o seu já tradicional bordão: – “quem vamos?”, mobiliza um número cada vez maior de pessoas para ir ao Festival de Gramado, para acompanhar as produções e também participar dos debates e encontros que envolvem o audiovisual negro.

 

           No concorrido debate com os diretores e diretoras, após a seção de exibição dos filmes concorrentes no sábado, que se deu na Sociedade Gramadense, a Dra. em Educação Maria Conceição Lopes Fontoura destacou a relevância da produção cinematográfica negra gaúcha para a construção de uma sociedade mais inclusiva, diversificada culturalmente e plurirracial.

 

           Fontoura ainda afirmou que no próximo ano fará questão de marcar presença no Festival, assistindo e debatendo filmes que tragam na sua centralidade a amplitude e a abrangência dos universos complexos das populações negras, os quais ainda são minorias entre os selecionados pelas curadorias.

 

           Acreditamos que a continuidade e a qualidade peculiar da produção audiovisual negra, nas próximas edições do Festival de Cinema de Gramado, além do prêmio do público negro, com sua significativa presença, terão o reconhecimento dos júris Oficial e da Crítica, e os prêmios virão.

 

*Vera Lopes  – Atriz