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Dessa Arte Eu Sei Um Pouco (2023)

        A Capoeira é um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. É também um dos elementos definidores da cultura nacional, pois diz muito da nossa história, de um povo e da sua capacidade de resistência e reinvenção. Esse é um país de capoeiristas, de gente que vive no contragolpe. E é nesses movimentos que o filme “Dessa arte eu sei um pouco” conta a história do grande mestre capoeirista Paulo dos Anjos, um homem de atitudes que através e com a capoeira tocou e transformou diversas vidas. Três delas nos contam um pouco das suas experiências com o mestre capoeirista, remontando de forma sensível esses encontros com o passado, com o mestre e com a capoeira.

 

        O longa-metragem é uma história sobre a capoeira e o mestre capoeirista, mas também é, sobre o encontro desses três homens negros, marcados para a vida toda pelo mestre Paulo dos Anjos e por seus ensinamentos. Jorge Satélite, Jaime de Mar Grande e Rene Bittencourt, três meninos que tiveram suas trajetórias afetadas pelo mestre. Os três, hoje em dia, coordenam espaços voltados ao ensinamento da capoeira enquanto prática e seus valores ancestrais. Eles rememoram diversos momentos com Paulo dos Anjos. Alguns alegres, outros nem tanto. Mas há também um fio condutor, que é como cada um deles lida com a herança do mestre, reconhecendo que é um trabalho com estilo e metodologia próprio.


        O diretor Cled Pereira constrói uma história sobre a capoeira na Bahia. A ideia não era somente contar a trajetória do virtuoso capoeirista, o que já seria muito interessante, mas segundo o diretor, também “narrar o contexto da capoeira nas décadas de 1970 e 1980 é uma tentativa de compreender como a capoeira baiana se tornou uma das maiores expressões culturais do Brasil, irradiando sua influência por todo o planeta. De forma despretensiosa, busco contribuir para combater o apagamento histórico, que muitas vezes ocorre em relação a figuras fundamentais na história da capoeira. É uma missão de resgate”, afirma Pereira. E ele faz isso através de uma narrativa entre o Jogo e a Ginga, de um mestre que ensinava a “jogar capoeira para o mundo”.


         Graduado em direção de fotografia pela Escola de Cinema de Barcelona (ECIB), Cled Pereira é também Bacharel em cinema e mídias digitais pelo Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb). Entre seus principais trabalhos estão os longas-metragens “Rumo”, de Bruno Victor e Marcus Azevedo e “Tempo de Kuarup”, do diretor Neto Borges. Entre os curtas- metragens, “Vão das Almas”, de Edileuza Penha e Santiago Dellape; “As dúas em Punto”, “La madre y la cerda” e “As Fraquejadas”, de Uliane Utatit.

 

        “Dessa arte eu sei um pouco” é um registro importante para a capoeira, para a cultura nacional e para o povo preto do Brasil. É a possibilidade de poder se ver nessas histórias e compreender a capoeira como um dispositivo social muito importante e de como a sua presença em múltiplos espaços, como escolas, universidades ou praças, pode ser absolutamente transformador de vidas. Mestre Paulo dos Anjos dizia que a ideia era “não ser só um capoeirista guerreiro, mas também um capoeirista cidadão”.

*Adriano Denovac – Crítico de cinema da Borboletas Filmes, doutor em História doTempo Presente (UDESC), com pesquisa voltada para o Cinema Negro.