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Maré Braba (2023)

        Uma animação fantástica que se desdobra em sete minutos com uma carga simbólica. De forma lúdica e lúcida traz a discussão sobre a crise climática. As causas e causadores do desequilíbrio que o clima do planeta tem sofrido e que ainda pode ficar pior. “Maré Braba” (2023) é belo e assustador ao mesmo tempo, quando pensamos nas consequências desse processo. Entretanto, isso é apresentado de forma sensível e didática e com uma qualidade estética e técnica que nos capturam.


        “Maré Braba” é uma animação para todas as idades. O curta-metragem possui uma estética pueril, linda. Os cenários e os personagens são construídos com tecidos e outros materiais como isopor, espuma, esponja de aço, para representar a fumaça gris que sai das chaminés das fábricas, empesteando o ar do planeta. O filme é uma belíssima composição visual e com um forte impacto enquanto mensagem. Destaque para a cena em que uma comunidade de pescadores e catadoras têm o mar negado por uma cerca de ferro. Esta, simboliza o poder econômico que aniquila as comunidades vizinhas, tirando os seus sustentos em função da exploração das riquezas naturais. Todavia, essas comunidades felizmente ainda resistem.


        Essa maré visual também aponta o futuro e ele não é auspicioso. Se o atual modelo não mudar, e sob esse aspecto o curta também é denúncia, é construído de forma a levar crianças e adultos a refletirem sobre a preservação e respeito à natureza e ao planeta, a nossa casa.


        “Maré Braba” é dirigido pela talentosa Pâmela Peregrino, que também dirigiu o premiado “Ewé de Òsányìn: o segredo das folhas” (2021), uma obra fantástica, e títulos como “Partir” (2012); “Òpárá de Òsùn: quando tudo nasce” (2018); “Oríkì” (2020) e “Porto e Raiz” (2021). Além de animadora, também é cenógrafa, professora de Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia e tem experiência na animação ligada a processos educativos em comunidades negras e indígenas.


        A animação é uma iniciativa do Instituto Terramar, GT de Comunidades Costeiras, (Coletivo Urucum, Conselho Pastoral de Pescadores, Escritório de Direitos Humanos Frei Tito de Alencar, Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais, Pesquisadores, Ambientalistas), projeto De Mãos Dadas Criamos Correnteza (Instituto Terramar, Fórum Suape e Instituto PACS) e Ìtàn: Cinema Negro de Animação, o que faz de “Maré Braba” uma obra verdadeiramente coletiva.


        Aclamado por onde passa, o curta participou de mais de 40 festivais em dois anos e recebeu seis prêmios. Vale a pena elencar: Melhor Filme Cearense, Melhor Direção de Arte e Melhor Som no 2° Festival Samburá de Cinema e Cultura do Mar (CE), em 2023; Melhor Roteiro, Melhor Montagem e Melhor Cartaz no 17° Curta Taquary (PE), em 2024.


        Com belíssimos tons de azul, tecidos que tomam forma líquida produzindo um maravilhoso efeito e destaque para as bonecas de tecido, feitas por Ica Souza – são cativantes –, o filme revela duras verdades, como o lixo, a pesca ilegal, os vazamentos de óleos, a matança de animais… e tudo em nome de quê? “Maré Braba” nos coloca entre o sublime e o trágico. Essa maré braba vem para nos lembrar que a natureza é finita e que políticas e ações globais para frear a crise climática são urgentes, caso contrário…

*Adriano Denovac – Crítico de cinema da Borboletas Filmes, doutor em História doTempo Presente (UDESC), com pesquisa voltada para o Cinema Negro.