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Única Saída (2021)

 

        Você já se viu sem saída na vida? Já experimentou o limite das decisões? “Única Saída” (2021) é um filme que te dá 11 minutos para isso. Uma equação de suspense e medo potentes, o curta é muito bem construído a partir de um roteiro e uma direção certeiros. Este filme vai desafiar a sua capacidade de sentir e pensar desfechos.  A forma como a narrativa é construída instiga a curiosidade o tempo todo. A aura de mistério que envolve o filme é permanente e isso se dá, evidentemente, pela força do roteiro, direção e excelentes interpretações.

         O diretor é o conhecido ator Sérgio Malheiros, que começou a sua carreira na TV Globo em 2000. Mas foi em 2004, com a novela “Da Cor do Pecado” onde vivia o personagem Raí, que o seu trabalho tomou projeção. Desde então, Sérgio segue o seu trabalho no audiovisual, passando por importantes canais de televisão no Brasil, e também no cinema.

         Em 2018, se inicia a sua trajetória como diretor. Começou com videoclipes. Mas foi em 2021 que dirigiu o seu primeiro filme: “Única Saída” – lançado em 2022. E de primeira produziu uma obra de suspense com qualidade técnica e que mexe com a audiência. Gravado com duas câmeras, o thriller de Malheiros é construído entre luzes e sombras. A história se desenvolve quase toda dentro do apartamento do casal. Com closes rápidos, que vão dando pistas e construindo uma atmosfera propícia para a narrativa, fique atenta(o).

         O roteiro do filme é em parceria com Edmilson Filho, conhecido do grande público por diversos trabalhos, mas principalmente, por incorporar Francisgleydisson Peixoto da Silveira, na série global “Cine Holliúdy”, também interpreta um personagem em “Única Saída”. Este diálogo entre direção, roteiro e interpretação, como já sugerido, marca de forma indefectível o filme e demonstra certo grau de sofisticação estética e conceitual para o cinema negro no Brasil.

         O curta, desde o lançamento, tem participado de festivais e premiações como Direção de Arte, Melhor Filme, Melhor Ator e, em 2023, Melhor Roteiro, no 8º  Fest & Arte de Curtas-Metragens (RJ). Em 2022, esteve nos festivais Cine Açude Grande – Festival de Cinema de Cajazeiras (PB); First-Time Filmmaker Sessions @ Pinewood Studios (USA) e 26º Búzios Cine Festival (RJ) e, antes do fechamento dessa crítica, recebeu  o “Troféu Grão de Ouro”, no Festival de Cinema Vassouras, no Vale do Café – Edição 2023, eleito pelo júri técnico, composto por profissionais da indústria audiovisual, com a distinção de Melhor Direção.

         Com excelente elenco, destaco a atriz Lucélia Sérgio que, com uma atuação primorosa, interpreta a mulher do pastor. Ela constrói o arco dramático da personagem de forma surpreendente, que explode no desfecho da trama. Lucélia é uma atriz experiente e talentosa formada pela Escola de Arte Dramática EAD/USP, em 2010. Com diversos trabalhos no teatro, fez parte da Companhia Crespa e no cinema tem trabalhos importantes como “Nego Tudo” (2010), “Mundo Deserto de Almas Negras” (2016), entre outros. Em “Única Saída” podemos ver essa atriz negra em um momento de força criativa e beleza. 

 

         O filme foi produzido durante um período no Brasil em que a liberação do porte de arma estava em questão, trazendo também debates sobre temas como honra masculina, feminicídio, alcoolismo e fé. De fato, um filme absolutamente provocador e que aguça nossos sentidos. Em 11 minutos apresenta uma profusão de questões desafiadoras. “A sorte está lançada, mas decisão é do senhor” (Provérbio 16:33).

*Adriano Denovac – Crítico de cinema da Borboletas Filmes,

historiador e doutorando em História do Tempo Presente (UDESC),

com pesquisa voltada para o cinema negro.