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ROMÃO (2022)

Marcos Romão é um negro do movimento e em movimento que busca desamarrar a corda do racismo dos nossos pescoços, apontando quem a puxa. Herdeiro da luta de pessoas como a grande Beatriz do Nascimento, ele também é um ser que incomoda pela potência de sua militância e de sua “língua” afiada. O curta-metragem Romão revela em 10 minutos o arco dramático desse preto, com foco em sua trajetória na luta antirracista no Brasil. Sociólogo, ativista dos Direitos Humanos, fundador do S.O.S e da Rádio MamaTerra, ele talvez ainda seja pouco conhecido.

          É um filme que também nos provoca a refletir sobre a trajetória no movimento negro no Brasil, sobre quanto lutamos e quanto ainda temos a lutar. No começo do filme tem uma cena em que Romão fala para o público de uma manifestação em 1982. Observe os olhares e as expressões das pessoas negras de então. As questões postas por ele na cena, também estão para o presente da luta antirracista no Brasil e no mundo. Ainda são demandas a serem vencidas. Apesar de todos os nossos esforços e conquistas, fica evidente que a voz de Romão relaciona-se com todos os tempos, mas para, além disso, ele nos chama a seguir em frente e repensar as formas de luta. A experiência dele no mundo faz de sua trajetória uma possibilidade de pensar a luta pelos direitos da comunidade negra no passado e no presente.

O diretor Clementino Jr. apresenta para o grande público essa figura emblemática que define parâmetros na luta a partir dos anos 80. Clementino é um experiente diretor. Romão é seu 28o filme. A sua filmografia começa em 2000 com a obra “Sífilis” e traz outras importantes produções comoSequestro de Bellini” (2003), “Anamnese” (2016) e “A Padroeira” (2020).  Também é educador audiovisual e ambiental, doutor e mestre em educação, fundador do CAN – Cineclube Atlântico Negro e do CineGEASur. Filho de dois ícones do cinema e da TV brasileira Chica Xavier e Clementino Kelé , faz dele herdeiro de uma longa tradição no que tange às narrativas negras e à produção audiovisual como um todo. Clemetino Jr. é um dos diretores mais criativos e importantes do Cinema Negro de sua geração.

O curta-metragem circulou por festivais nacionais e internacionais. Entre eles Festival do Rio (RJ); Rio de Janeiro Int’l Film Festival (RJ); 15° Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe (RJ) e, no exterior, Lift-Off Filmmaker Sessions (Reino Unido) e Berlin Art Film Festival (Alemanha). Além de receber Homenagem Especial no 6º Curta Canedo (GO).

Romão não é só um filme sobre um importante ativista, ele coloca a experiência do racismo no Brasil em relação ao racismo no mundo. É uma grande provocação de Clementino e de Romão, dentro de uma estética televisiva. Ele sorri, pergunta, acusa e propõe um mundo possível. Você não vai sair ilesa(o) a Romão.

 

*Adriano Denovac – Crítico de cinema da Borboletas Filmes,

historiador e doutorando em História do Tempo Presente (UDESC),

com pesquisa voltada para o cinema negro.